Uma escola em Portugal, na freguesia de Carcavelos, em Cascais organizou na semana passada o “Dia da Saia”, com o lema “A roupa não tem gênero”, com a suposta intenção de incentivar à tolerância e a que “os alunos se sintam confortáveis a usar aquilo que gostam”.
É o que diz a presidente da Associação de Estudantes (AE Carcavelos), que se disse surpreendida com a polêmica que o evento causou nas redes sociais. Segundo ela, a informação “de que o dia [da saia] iria acontecer só foi transmitida através de meios internos” e que, por isso, não entende “como é que chegou a tanta gente”.
Segundo ela, “a iniciativa foi vista com entusiasmo” por parte da comunidade estudantil e dos seus encarregados de educação, garantiu. No entanto, fora da comunidade estudantil, as opiniões divergem.
“Deixem as nossas crianças em paz!”, protesta um internauta no Facebook, num post acompanhado de um e-mail enviado pela Associação de Pais da Escola que divulgava a iniciativa. “É uma vergonha a escola/Estado permitirem ideologias partidárias (extrema-esquerda) nas escolas! Não precisamos que ensinem as nossas crianças a respeitar gêneros, nós (pais) ensinamo-los a respeitar os seres humanos”, sublinha o mesmo internauta.
Para a diretora do Agrupamento de Escolas de Carcavelos, Maria da Graça da Silva Oliveira, a reação nas redes sociais está sendo “exacerbada”, visto que se trata de uma iniciativa voluntária, “destinada a que os alunos se divirtam”, com o objetivo de “promover o respeito pelo outro”.
A presidente da Associação de Estudantes de Carcavelos justifica dizendo que foram vários os alunos que, durante a campanha eleitoral, pediram para que se organizassem iniciativas que apelassem à tolerância, visto que “se sentiam, por vezes, julgados pela roupa que vestiam”. Assim, a dirigente associativa lamenta toda a polêmica gerada: “Sentimo-nos usados por alguns partidos políticos para promoverem os seus ideais, nós não estamos associados a nenhuma juventude partidária e temos colegas de várias ideologias políticas dentro da Associação”.
Antônio Saldanha, membro da Juventude Popular (JP) de Cascais diz que a JP acredita “que cada um deve poder vestir-se como quer”, mas não concorda “com a doutrinação ideológica que está sendo feita por associações (a de Estudantes e a de Pais) que deviam ser neutras e representar todos”. Saldanha sublinha que “a roupa tem gênero e quando vamos a um centro comercial [lojas, shoppings] vemos isso”.
A iniciativa promovida pela Associação de Estudantes de Carcavelos foi copiada de uma iniciativa idêntica promovida pela escola secundária de Portimão, cidade do sul de Portugal, que, por sua vez, copiou o exemplo de outras escolas de outros países, como França e Canadá.
Em Carcavelos, a AE desafiou os alunos a partilharem nas redes sociais fotografias usando saia, sendo que a mais criativa habilitava-se a ganhar brindes como “baralhos de cartas ou um cartão de 10 euros para jogos”, o que leva à desconfiança de que a iniciativa não tenha sido propriamente dos alunos e tenha alguém por trás financiando esses brindes e incentivando esse tipo de movimento.