Quem mandou matar Celso Daniel? Completados vinte anos nesta terça-feira (18/01), o caso continua cheio se mistérios. Uma desconfiança, porém, nunca se desfez: a de que Lula mandou matar Celso Daniel. Além da desconfiança popular, esta também foi uma acusação do operador do esquema do Mensalão, o publicitário e empresário Marcos Valério.
A acusação de Valério foi dada em um depoimento ao Ministério Público de São Paulo. Ele afirmou que o ex-presidente foi um dos mandantes da morte do então prefeito petista de Santo André. O crime jamais foi solucionado.
Valério disse ao Ministério Público que ele próprio e o chefe de gabinete de Lula na ocasião, Gilberto Carvalho, compraram o silêncio do empresário Ronan Maria Pinto, em um encontro um ano após a morte de Celso Daniel. Valério afirmou que Ronan teria aceito a proposta, mas deixando claro que “não pagaria o pato sozinho” pelo crime.
Ainda segundo Valério, a motivação do crime teria sido a desistência de Celso Daniel de financiar uma caravana de Lula pelo Brasil com dinheiro de um esquema de corrupção na Prefeitura de S. André. A caravana seria um importante instrumento de popularização da pré-candidatura de Lula à Presidência naquele ano, que ele acabaria por vencer.
Celso Daniel foi cruelmente morto a tiros no dia 18 de janeiro de 2002, logo depois de ser vítima de um sequestro. O caso tornou-se ainda mais misterioso por conta de uma sequência de assassinatos de pessoas relacionadas com o crime, como relembramos a seguir:
- Dionísio Aquino Severo: responsável pelo sequestro de Celso Daniel e uma das principais testemunhas no caso;
- Sérgio ‘Orelha’: responsável por esconder Dionísio em sua casa após o sequestro. Foi fuzilado em novembro de 2002;
- Otávio Mercier: era investigador da Polícia Civil. Telefonou para Dionísio um dia antes da morte de Daniel. Foi morto a tiros em sua casa;
- Antonio Palácio de Oliveira: era garçom e atendeu Celso Daniel na noite do crime pouco antes do sequestro, sendo testemunha-chave do crime. Foi assassinado em fevereiro de 2003;
- Paulo Henrique Brito: foi testemunha do assassinato do garçom. Morto com um tiro vinte dias depois do garçom;
- Iran Moraes Redua: homem que reconheceu o corpo do prefeito jogado em uma estrada e que acionou a polícia em Juquitiba. Foi assassinado com dois tiros em novembro de 2004;
- Carlos Delmonte Printes: legista que encontrou marcas de tortura no cadáver de Celso Daniel. Foi encontrado morto em seu escritório em São Paulo, em 12 de outubro de 2005;
Para o oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do ex-prefeito, Celso foi assassinado porque possuía um dossiê indicando um esquema corrupto que desviava dinheiro para o PT.
Outro episódio estranho na ocasião foi o afastamento de Romeu Tuma Jr., delegado responsável por uma investigação conexa ao crime. A investigação que apurava o suposto envolvimento no caso Celso Daniel de um detento foi retirada de Tuma, titular da Delegacia Seccional de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, afirmou que o inquérito e repassada ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) pelo Governo do Estado, governado então por Geraldo Alckmin.
O PT nunca demonstrou interesse em esclarecer o assassinato do mandatário filiado ao partido e que na ocasião era uma de suas estrelas em ascensão.
O crime foi tema de alguns livros, como “Celso Daniel: Política, Corrupção e Morte no Coração do PT”, de Silvio Navarro e “Quem Matou Celso Daniel?”, de Leonardo A. Aguiar.
Passados vinte anos, a pergunta segue no ar: quem mandou matar Celso Daniel?