Depois de se reunir pela manhã com os chefes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário na busca de soluções para conter a pandemia de Covid, Arthur Lira (PP-AL), subiu o tom contra Bolsonaro na tarde desta quarta-feira (24/03) e disse que os “remédios políticos” no Congresso contra a “espiral de erros” são “conhecidos”, “amargos” e alguns, “fatais”.
Lira não mencionou expressamente um processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, mas a indicação do que ele falava foi clara. E completou dizendo que estava “apertando o sinal amarelo” e citou “erros primários, desnecessários e inúteis” de governos de forma abstrata, sem falar diretamente de Bolsonaro.
Para disfarçar, Lira fez uma declaração evasiva: “Eu aqui não estou fulanizando. Dirijo-me a todos que conduzem os órgãos diretamente envolvidos no combate à pandemia — o Executivo federal, os executivos estaduais e os milhares de executivos municipais também”, afirmou.
E completou dizendo que “também não é justo descarregar toda a culpa de tudo no governo federal ou no presidente” e que “não é hora de tensionamentos”.
“Quero deixar claro que não ficaremos alienados aqui, votando matérias teóricas como se o mundo real fosse apenas algo que existisse no noticiário. Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar: não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a serem praticados”, declarou.
O discurso de Lira, porém, não pode ser compreendido de outra forma que não seja o de uma ameaça velada a Bolsonaro, considerando que o Congresso Nacional só pode agir contra o Presidente da República, não contra governadores ou prefeitos.
As razões para essa ameaça podem ser especuladas como uma satisfação aos que se opõem a Bolsonaro de que o Congresso não está inerte diante da situação ou, ainda, um sintoma de uma crise entre o Parlamento e o Chefe do Executivo.