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Morre Lírian Tabosa

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A Baixada Fluminense e a literatura brasileira se despediram nesta quinta-feira (03/07) de Maria Lírian Tabosa Machado, mais conhecida como Lírian Tabosa. Aos 92 anos, a escritora e ativista cultural faleceu, deixando um legado na poesia, na defesa da justiça social e na construção da memória por meio da palavra.

Nascida no Ceará, Lírian Tabosa escolheu Nova Iguaçu para fincar raízes e de lá ecoar sua voz. Ao longo de sua vida, dedicou-se incansavelmente à literatura, tornando-se uma das figuras mais emblemáticas da região. Sua obra e sua militância cultural foram pilares para muitos, inspirando gerações a valorizar a cultura local e a lutar por um mundo mais justo.

VIDA E CARREIRA

A morte de Lírian Tabosa, poeta e cronista, ocorrida nesta quinta-feira, 3 de julho de 2025, deixará um grande vazio na Baixada Fluminense. Sua partida representa a perda de um símbolo da resistência poética da Baixada Fluminense, uma região que ela tanto amou e para a qual contribuiu imensamente.

Sua trajetória singular, marcada pela conciliação intrínseca entre vida e arte, deixou um impacto profundo na literatura e na cultura brasileira. Lírian Tabosa não foi apenas uma escritora; ela foi uma força motriz cultural e uma voz inabalável na defesa da liberdade e da justiça social, especialmente na região que a acolheu e inspirou por décadas: Nova Iguaçu.

Raízes e Formação: Os Anos Iniciais e a Descoberta da Escrita

Lírian Tabosa nasceu em 1933 na cidade de Limoeiro do Norte, no Ceará, um estado conhecido por sua rica tradição literária e forte identidade cultural.

Essa origem nordestina, com suas particularidades sociais e políticas, viria a influenciar profundamente sua visão de mundo e sua produção artística.

Em 1956, Lírian Tabosa mudou-se para o Rio de Janeiro, estabelecendo-se em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Esta cidade se tornaria seu lar por muitos anos e uma das suas maiores fontes de inspiração, um “grande amor” que permeou sua obra.

Sua vocação para a escrita manifestou-se precocemente, revelando-se uma escritora desde os 12 anos de idade. Aos 15 anos, já produzia seus primeiros sonetos, demonstrando uma base sólida e inspiração em grandes nomes da literatura brasileira e portuguesa, como Castro Alves e Guerra Junqueiro.

O fato de Lírian Tabosa ter começado a escrever tão cedo e de ter sido influenciada por poetas clássicos como Castro Alves e Guerra Junqueiro é fundamental para compreender sua trajetória. Isso indica uma inclinação artística precoce e uma formação literária que antecede ou se desenvolve em paralelo com seu engajamento político.

Essa base técnica e estética inicial provavelmente forneceu as ferramentas para que ela, mais tarde, pudesse expressar suas fortes convicções políticas e pessoais de forma poética e impactante, estabelecendo um fundamento para a fusão de “luta e poesia” que marcaria sua vida.

Militância Política e Exílio: A Vida em Defesa da Liberdade

A adolescência de Lírian Tabosa foi marcada por uma profunda “sedução pela política”, motivada pelas precárias condições sociais do Nordeste brasileiro, sua região de origem. Seu engajamento inicial na campanha “O Petróleo é Nosso” por volta de 1950 demonstra uma consciência social e política aguçada desde muito jovem, estabelecendo o tom de uma vida dedicada à luta.

Com fortes opiniões políticas, Lírian Tabosa tornou-se uma voz ativa contra regime civil-militar de 1964. Sua militância resultou em prisão, evidenciando os riscos e sacrifícios que estava disposta a enfrentar por seus ideais.

Em 1964, como funcionária do extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), Lírian foi denunciada ao regime militar e forçada ao exílio. Sua fuga para a Bolívia foi uma jornada solitária e perigosa, realizada a pé, de barco, cavalo, ônibus ou trem, margeando fronteiras até Santa Cruz de la Sierra.

Ela viveu na Bolívia até 1972, mas seu envolvimento político a levou a um exílio que, no total, durou mais de 15 anos, com passagens por outros países da América Latina, incluindo Uruguai e Cuba. Em 1967, foi novamente presa em Santa Cruz de la Sierra, permanecendo incomunicável por 33 dias antes de ser libertada graças a uma advogada boliviana.

Durante seu exílio, Lírian reencontrou o revolucionário comunista Ernesto Che Guevara em Cuba, a quem já havia conhecido no Rio de Janeiro em 1961.

Lírian Tabosa retornou ao Brasil em 1979, ano crucial para a redemocratização do país. No mesmo ano, ela participou ativamente da fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Mesmo após o retorno, ela permaneceu engajada, dedicando-se a reuniões e projetos como o Plano Nacional do Livro e da Leitura.

A constante interconexão entre sua militância política (campanha “O Petróleo é Nosso”, a luta contra a regime, prisão, exílio, fundação do PDT) e sua produção poética é uma das características mais marcantes da vida de Lírian Tabosa. Essa relação de causa e efeito sugere que suas experiências de vida extremas não apenas informaram seus poemas, mas se tornaram a própria essência de sua arte. A poesia, para ela, não era um mero passatempo, mas um instrumento de expressão de sua “luta” e “paixão”, transformando a dor do exílio e a militância em versos de resistência e esperança.

Além de sua intensa vida política e literária, Lírian Tabosa demonstrou uma notável capacidade de resiliência e dedicação pessoal. Ela criou sozinha 20 filhos adotivos em Cabuçu, Nova Iguaçu, um feito que sublinha sua profunda solidariedade e compromisso com o próximo. Suas experiências, incluindo o exílio, estão presentes em seus poemas, e ela reconhecia que o exílio a ensinou a resistir a obstáculos como a saudade da família, forjando-a como uma “guerreira ilustre”.

A Obra Literária: Poesia e Crônica como Expressão de Vida

Lírian Tabosa foi uma escritora cuja obra foi profundamente moldada por suas experiências de vida. Sua maior inspiração sempre foi a política, aliadas a um grande amor pela cidade de Nova Iguaçu. Sua poesia é descrita como “embriagante”, sugerindo um estilo vívido e envolvente.

Os temas recorrentes em sua produção incluem amor, ideologia, solidariedade e o cotidiano, refletindo sua visão humanista e engajada do mundo. Exemplos de sua escrita, como os poemas “Ai amor, não faça isso!” e “Recordando”, demonstram sua capacidade de explorar tanto a emoção pessoal quanto a reflexão existencial.

Lírian Tabosa publicou obras como “Moduan x Lírian Tabosa”, com coautoria com Moduan Mattos, publicada pela Editora Vício & Verso; e “De lá prá cá – poemas e memórias”, lançado em 2014 na Casa da Cultura Ney Alberto, em Nova Iguaçu.

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